Primeira Parte
1 - A Lição de Violão
Policarpo Quaresma, mais conhecido como Major Quaresma, há quase trinta anos trabalhava como subsecretário no Arsenal de Guerra e vivia numa casa em São Januário, mantendo uma rotina fixa de horários e costumes. Era um homem pequeno, magro e usava cavanhaque. Mantinha o olhar sempre baixo, porém profundo quando mirava algo. Os vizinhos o respeitavam por ser um homem abastado, mas estranhavam seus hábitos reclusos – só recebia visitas do compadre e sua filha.
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Major Quaresma era, acima de tudo, um patriota: acumulava centenas de livros literários, históricos e geográficos sobre o Brasil. Quando jovem queria servir o exército, mas foi rejeitado pela junta de saúde e acabou trabalhando na administração militar. Há um ano dispôs-se a estudar o tupi-guarani, aquela que seria a autêntica língua brasileira, e era zombado pelos colegas de trabalho, em especial por Azevedo, que o escutava com atenção para depois fazer piadas por suas costas. Agora era a vez de aprender violão, instrumento que, segundo seus estudos, representava a verdadeira tradição nacional.
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Ultimamente, três vezes por semana, Quaresma passou a receber a visita de um professor de violão: Ricardo Coração dos Outros, um famoso cantor de modinhas. Este evento causou alvoroço na vizinhança e contrariedade em sua irmã, Adelaide, com quem vivia, já que o instrumento não era considerado nobre, mas um hábito de desocupados.
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Certo dia Ricardo foi convidado para jantar na casa do Major – onde só eram servidos pratos nacionais, a contragosto de Adelaide. Após a refeição foi dada a aula de música e Policarpo pediu que seu professor cantasse uma de suas canções. A voz de Ricardo ressoou pela vizinhança, que logo cercou a casa para aplaudi-lo.
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Ismênia, filha do general, vizinho de Quaresma, chegou à casa procurando por Adelaide, que, como de costume, perguntava sobre seu futuro casamento – sempre adiado pelos atrasos nos estudos de seu noivo. Ismênia, entretanto, estava lá a pedido de seu pai, que gostava de modinhas e convidou o músico para tocar em sua casa – para lá foram.
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