Parte 1
Miguilim, um menino de oito anos, vivia no Mutúm, uma região remota e isolada, cercada por matas e morros. Apesar da beleza natural do lugar, a mãe de Miguilim sofria com a vida ali, expressando tristeza, especialmente nos longos meses de chuva.
Durante uma viagem com o tio Terêz, irmão de seu pai, quando foi crismado no Sucurijú, Miguilim havia sentido uma saudade intensa de sua casa e, não conseguindo chorar, descobriu que umedecer as ventas aliviava sua aflição. Seu tio, atencioso, ajudava-o a molhar um lenço com água para confortá-lo. Miguilim admirava seu tio Terêz, que mostrava cuidado e afeto por ele.
Miguilim, ao retornar, trazia consigo a esperança de consolar a mãe com a notícia de que o Mutúm era considerado um lugar bonito pelos habitantes dos arredores. Sua mãe, no entanto, não se animou com essa notícia, expressando seu desejo oculto por outras experiências além dos limites das montanhas que cercavam o Mutúm.
O pai de Miguilim, vendo a ansiedade do garoto em falar com sua mãe, sentiu-se ignorado e resolveu castigá-lo. Como punição ele foi deixado de fora de uma pescaria familiar, permanecendo em casa, onde seu tio lhe ensinou a armar armadilhas para pegar pássaros. Miguilim, contudo, sentia compaixão por alguns pássaros capturados e os soltava.
O menino também recordava vividamente o Bispo que encontrou durante a crisma, impressionado com a riqueza e o esplendor de suas vestes. A questão da beleza do Mutúm permanecia em sua mente, e quando perguntou a opinião do tio Terêz, este lhe assegurou que achava o lugar muito bonito, reforçando a discrepância entre as percepções dos adultos sobre o lugar onde viviam.