SÁBADO
Capítulo 1
É descrita a madrugada numa rua do subúrbio da cidade: a névoa, a carroça do padeiro, as luzes das casas se acendendo, um gato no telhado, um bebê chorando…
No quarto do professor Clarimundo um rato tenta se aproveitar dos restos de um lanche que estão sobre a mesa, misturados a anotações que foram usadas pelo professor para tentar ensinar ao sapateiro Fiorello a Teoria da Relatividade.
Alheio ao seu ronco e ao tique-taque do relógio, Clarimundo viaja em seus sonhos: anda pelos campos onde viveu a infância; é perseguido por um touro, que o atinge em seu sexo; caminha pelas montanhas nevadas da Suíça a tentar explicar ao próprio Einstein a Relatividade, sem sucesso, até perceber que o físico tornou-se o sapateiro Fiorello; flutua pelo infinito, isolado de todos os homens.
O despertador do relógio retira lentamente Clarimundo de seu mundo infinito dos sonhos e o trás ao mundo finito e tridimensional da realidade de seu quarto. Ele se levanta, procura a água da pia para se despertar, confere as atividades do dia, aulas e alunos…
O professor sorri ao pensar que o tempo determinado pelo relógio, que rege tantas atividades de tantas vidas, não é aquilo que pensam o sapateiro e a viúva Mendonça (dona da casa onde mora), citando trechos de reflexões filosóficas sobre o assunto. Pensa sobre suas realizações em seus quarenta e oito anos de vida: estudos, artigos e notas publicadas. Lembra-se do livro que está escrevendo: será sua grande obra, com traços de fantasia. Mas o tempo corre e é necessário dar andamento ao dia…
Põe a água para esquentar e abre um livro, conforme sua rotina: quarenta minutos de leitura. Teoria da Relatividade: mais uma viagem por um mundo infinito.