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Resumo Por Capítulo: Alguma Poesia

Casamento do céu e do inferno


O poema "Casamento do Céu e do Inferno" apresenta uma visão peculiar e irreverente da dicotomia entre o sagrado e o profano, explorando a fusão dos opostos de maneira simbólica e visualmente rica. Através de imagens contrastantes e uma linguagem carregada de ironia, o autor cria uma narrativa que desafia as convenções tradicionais sobre o bem e o mal, o divino e o terreno.


No início, o poema descreve uma cena celestial, onde a lua, caracterizada de forma irônica como "diurética", ilumina o cenário com uma luz que mais se assemelha a uma "gravura de sala de jantar", sugerindo uma domesticação do divino. A presença de anjos da guarda em "expedição noturna" cuidando dos sonos "púberes" e espantando mosquitos introduz uma imagem quase cotidiana do celestial, humanizando essas figuras sagradas.


A menção de "virgens tresmalhadas" que se incorporam à via-láctea, "vaga-lumeando", introduz um elemento de mistério e magia, brincando com a ideia de pureza e sua transformação em luz celeste. Contudo, a cena é abruptamente contrastada pela presença do diabo, que espreita com "olho torto" e possui uma luneta capaz de varrer "léguas de sete léguas", além de um ouvido extremamente aguçado, elementos que conferem ao diabo uma capacidade quase divina de observação e audição.


Enquanto São Pedro, tradicionalmente o guardião das portas do céu, dorme, o diabo continua sua vigilância, observando os acontecimentos terrenos. A cena se move então para a terra, onde "bocas machucadas" suspiram, deixando ambíguo se por dor ou por amor, sugerindo uma mistura de sofrimento e desejo, de rezas e suspiros de amor. O enlace dos corpos, "enrolados ainda mais" e a fusão da carne, remetem à consumação física e espiritual do amor, contrastando a pureza idealizada com a realidade terrena do desejo e da união carnal.


O poema conclui com uma aceitação irônica do destino eterno das almas, reservando a salvação apenas para figuras idealizadas como Laura e Beatriz, enquanto "o resto vai para o inferno", uma crítica mordaz às noções convencionais de pecado e redenção.


"Casamento do Céu e do Inferno" é, assim, uma análise complexa e multifacetada da condição humana, entrelaçando o divino e o profano, o sagrado e o terreno, em uma tapeçaria rica de imagens e simbolismo. O poema desafia as percepções tradicionais de moralidade e espiritualidade, sugerindo uma realidade mais nuançada e entrelaçada, onde o céu e o inferno, o desejo e a pureza, coexistem em um equilíbrio delicado e eternamente humano.



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