Capítulo 4
O 202 recebe uma festa a pedido do grão-duque da Dalmácia, que oferece um peixe raro de seu país como prato principal. O narrador descreve os convidados, seus “importantes” títulos e suas “profundas” conversas com leves traços de ironia.
A organização do jantar se inicia com um novo boicote da tecnologia sobre Jacinto: falta energia a toda a residência. O episódio, entretanto, foi logo resolvido com a garantia de estabilidade do sistema por um engenheiro da Companhia Elétrica.
Adentrando a festa, José Fernandes relata a admiração dos convidados sobre as modernas máquinas mantidas na residência de Jacinto. Fica claro o desgosto do anfitrião em se desdobrar dando explicações técnicas sobre os instrumentos, enquanto as visitas apenas encenavam um encantamento superficial e sequer entendiam para que serviam os aparelhos.
Em seguida o narrador participa de uma discussão sobre o livro recém-lançado pelo “psicólogo feminista” presente à festa. Ao se gabar de sua obra, o escritor afirma que “nunca penetrara tão fundamente na velha alma humana”. No entanto seu discurso é quebrado por uma observação de outro convidado, Marizac, que estranha a cor preta do colete usado por uma de suas personagens, considerando que seria uma cor incomum, inapropriada a uma “uma duquesa, e do gosto mais puro”. O psicólogo decide assumir seu suposto erro, tentando evitar a conclusão mais óbvia do caso: que ele nunca esteve em intimidade com uma duquesa.
Zé Fernandes encontra-se novamente com Jacinto, que discute com um banqueiro judeu o investimento na exploração de uma mina de esmeraldas na Birmânia. Questionando a existência real de esmeraldas na região, o anfitrião recebe a resposta que resume toda a conversa: “Há sempre esmeraldas desde que haja acionistas!”.
Outras “relevantes” conversas da festa relatam a queda de uma senhora de um velocípede e versam sobre as qualidades das nádegas de certa dama…
Chega enfim o grão-duque, muito esperado por todos por conta de sua nobreza. Ele se encanta pelo teatrofone (um mecanismo que reproduzia apresentações teatrais) e coloca todos a ouvir um musical. José Fernandes, que ficou sem um fone para si, interpreta ironicamente mais uma cena que só podia ser propiciada pela tecnologia: várias pessoas em silêncio compartilhando uma sala com seus ouvidos atentos ao som que saía de diversos fios elétricos…
Na hora da ceia, outro golpe das modernidades do 202 se abateu sobre Jacinto: o elevador que transportava o peixe do grão-duque emperrou. Após muitas discussões, entre as quais foi levantada uma questão bem objetiva – “por que o não trouxeram à mão?” -, decidiu-se enfim que o peixe precisava ser pescado do fosso. O grão-duque entusiasmou-se com a oportunidade de demonstrar suas habilidades de pesca em plena festa, mas o esforço foi inútil e todos comeram cordeiro.
Três dias após a festa Jacinto recebe de Portugal a notícia de um deslizamento de terra que cobrira a igrejinha que guardava os restos mortais de seus avós. Ele determina que todo o dinheiro necessário deveria ser gasto para recuperar o que foi danificado.